Pessoas indo e vindo. E eu nessa composição olhando para os lados e face a face tentando decifrar um pouco do que cada um sente nesse momento.
Passamos por tanta gente na correria do dia a dia que acabamos por ficar insensíveis ao outro. O trem está vazio, sento ao lado de uma mulher, ela logo aperta a bolsa junto ao peito. Estranho, mas entendo. Um senhor pouco mais à frente olha incansavelmente para fora, como se o vagão fosse uma gaiola e o mundo lá fora fosse um objetivo.
Duas crianças riem incessantemente enquanto seus pais dormem em um assento mais à frente. Fones de ouvido são peças fundamentais, como se abrissem um universo paralelo, onde cada um se fecha no mundo de suas próprias músicas. Eu mesmo, estou ouvindo Criolo, “não quero ver você triste assim não”, é o refrão, que gostaria de compartilhar com diversos rostos aqui.
Pessoas, e mais pessoas, histórias e mais histórias. Tanta coisa interessante de se ouvir, mas, não tem como. Continuo minha viagem, e a mulher ao meu lado parece tensa. Me olhando a todo instante. Cruzo minhas pernas, ela me olha e sorri. Sorrio de volta e ela relaxa a expressão, então percebo, o medo da mulher não era quanto a bolsa. Ela estava preocupada se eu iria assedia-la. Uma pena, mas noto outro problema, as pessoas aqui não se olham nos olhos. Como se estabelecer um contato visual fosse uma autorização para o outro ter liberdade para fazer o que quer.
Prossigo minha viagem, pensando nessa questão do contato visual, logo ouço “Estação Jandira”, cheguei ao meu destino, ao descer uma senhora quase esbarra em mim ao tentar pular o vão entre o trem e a plataforma. Ela me olha assustada, eu lembro de tudo que pensei na viagem. Penso, dou um sorriso para ela, e sigo meu caminho.
Paulo Macedo é um dos fundadores do Portal Osasco Notícias e especialista em comunicação digital. Escreve em sua coluna sobre cotidiano, redes sociais, comunicação e política. Siga no Instagram: @iPauloMacedo