O ano de 2015 marca o centenário da primeira dentre as muitas tragédias humanas ocorridas no século XX: o genocídio do povo armênio. Perpetrado sistematicamente pelo governo do Império Turco Otomano, à época sob o comando da coalizão nacionalista denominada Jovens Turcos, o massacre produziu cerca de 1,5 milhão de vítimas e colocou em prática métodos cruéis de extermínio, incluindo afogamentos em massa de crianças e marchas forçadas pelo deserto.
Tendo como contexto histórico a Primeira Guerra Mundial (1914-18) e como postura ideológica a intolerância xenófoba, religiosa e nacionalista, o governo dos Jovens Turcos promoveu assassinatos, estupros, torturas e confisco de bens de um povo que, até então, vivia integrado ao Império Otomano, ocupando posições de destaque nos meios social, intelectual e militar da região. Sob a alegação de que os armênios tramavam a independência de seu território e de que colaboravam com a Rússia cristã, iniciou-se um processo de extermínio que tinha como objetivo a implantação da hegemonia cultural turca, ou panturquismo.
Fruto desse processo, a diáspora do povo armênio levou comunidades de refugiados para diversas partes do mundo. Um dos destinos dos imigrantes foi o Brasil e em especial, a cidade de Osasco, na grande São Paulo, onde foi construída a primeira Igreja Apostólica Armênia do país no ano de 1932. Desde sua chegada, a Comunidade Armênia de Osasco cumpre papel fundamental no desenvolvimento da cidade.
Entretanto, mesmo diante de fartas comprovações históricas, imagens, testemunhos e documentos, o genocídio do povo armênio segue sem reconhecimento oficial por parte da atual República da Turquia. Alegando que a tragédia foi resultado das condições críticas impostas à região pela Primeira Guerra e refutando o número de mortos reivindicado pela Armênia, o governo turco não cede às pressões internacionais para oficializar o reconhecimento e mantém sob seus limites territoriais um elemento geográfico de importância cultural basilar para os armênios: o Monte Ararat.
Cerca de 20 países no mundo, além dos Parlamentos Europeu e do Mercosul, da Corte Internacional de Justiça e do Vaticano, já reconhecem oficialmente o genocídio. O Brasil, infelizmente, não figura entre essas nações, apesar de contar com governos locais que já cumpriram com esse dever histórico e humanitário por meio de leis: Estados do Paraná, São Paulo e Ceará e alguns municípios, dentre eles, Osasco.
A necessidade de se reconhecer o genocídio do povo armênio situa-se na mesma lógica da confirmação do holocausto dos judeus na Segunda Guerra, ou da admissão da violação de direitos humanos pela ditadura militar no Brasil por parte das autoridades. O reconhecimento tem o condão de esclarecer os fatos e evitar que novos episódios como esse venham a se repetir. O objetivo não é a punição ou a retaliação, e sim, a busca pelo equilíbrio da justiça e pela restauração da verdade histórica.
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