No mês de junho deste ano, exibi para os meus alunos do Ensino Fundamental o filme “O ano que meus pais saíram de férias”. Juntos pudemos abordar a repressão, a tortura e a censura, presente nos Anos de Chumbo da Ditadura Militar nos anos 70.
Acreditem. Nossos estudantes adolescentes olham a Ditadura Militar como algo muito distante, quase inacessível, e que não deixou nenhuma herança cultural nos seus 21 anos de existência, até a posse do presidente Sarney em 1985. Depois da derrota da Emenda Dante de Oliveira das Diretas Já em 1984, Sarney, de vice de uma chapa articulada nos palácios, comandada por Tancredo Neves, governou o país até 1989, ano que o Brasil viveu a volta das eleições diretas para presidente.
Em 1986, o governo Sarney censurou a exibição do filme francês Je vous Salue, Marie. Não lembro direito a data, mas havia em Osasco uma cópia do filme francês proibido pelo governo de ser exibido em todo o país. Como forma de protesto e de rebeldia, a fita rodou a cidade de Osasco, em casa de amigos, normalmente nas tardes de sábado, driblando a Censura da Nova República, que revelava seu lado oculto e muito semelhante à Ditadura Militar.
Com o passar dos anos, fui percebendo que não só governos são parecidos, mas as gerações também. E a Censura permanece vida dentro de cada um. De forma mais explicita, como aquela que fazia o Estadão trocar parte de seus textos jornalísticos por receita de bolo, quando os generais censores os proibiam; ou de forma implícita, quando proibimos determinadas palavras, expressões populares ou alguns ritmos para os jovens, como o Funk, por exemplo.
Não se enganem leitores, a censura nunca morreu. Está muito viva dentro de nós. E o Brasil continua um país estranho, como dizia Darci Ribeiro, que nos seus vídeos sempre se perguntava: Por que não demos certo?
Vivemos dois problemas graves por aqui: um político e outro econômico. No político parecemos uma caravela perdida no meio do oceano Atlântico, fugindo ao largo dos espaços do mar sem vento. No econômico parecemos um país do século XIX, com fazendeiros nervosos com o fim da escravidão e desesperados em explorar os milhões de imigrantes que para aqui vinham em substituição à mão de obra escrava.
Precisamos de Eleições Diretas Já, uma geração de políticos sinceros e políticas públicas que enfrentem e eliminem de vez nossas eternas desigualdades econômicas e sociais, sem censura.
Foto: Jean-Luc Godard, diretor do filme, Marie / Disco de vinil “COMIDA” TITÃS
Marco Aurélio Rodrigues Freitas é jornalista, biomédico, historiador e professor das redes municipal e estadual de São Paulo.
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